Despertar de consciências – nível 1
ou… “I have a dream !”
No meu caminho destas coisas do combate já fiz um pouco de tudo e já passei por muitas artes, desportos e «sistemas».
Umas mais a sério e outras mais de passagem. Já fiz muita asneira; já treinei mal e já ensinei mal. Já pedi desculpa a alunos por não ter percebido ou por ter interpretado mal. Já andei perdido e meio-perdido. Já levei muito e já ouvi de quase tudo. Já tive e perdi alunos. Já tive e perdi amigos.
Mas…
Tudo isso foi necessário e tudo isso é aprendizagem, para amadurecer e assumir plenamente que sei o que faço, ensino e digo. Estou certo que continuarei a errar, mas agora com um mapa.
Vamos então ao vídeo: o que o provocou?
A “loucura” da falta de limite; do falar sem saber; sem conhecer a fundo a matéria. A doença das artes marciais.
Quando será que acaba a ilusão do “super-homem” ou… a confusão entre probabilidade e possibilidade?
Todos nós, adultos responsáveis, temos direito a brincar; a sair um pouco da realidade e a «acreditar» em coisas mirabolantes. Mas isso acaba quando se começa a entrar no absurdo e se tem uma escola aberta (digo eu…).
Ensinar uma coisa que é possível, mas pouco provável é, para mim, uma grandíssima irresponsabilidade.
Mas até isto da probabilidade é difícil de perceber por parte de quem ensina….
Porque há um vírus que infecta a maioria dos instrutores – um vírus que se alimenta da falta de preparação (da falta de sistema imune) do próprio instrutor e a que “cursos e mais cursos” não põem fim (porque são eles o charco onde voam esses mosquitos portadores de morbilidade): o vírus da falta de uma matriz, da abstracção, da adivinhação, do abuso.
Por exemplo: criar um ataque, de forma a que sirva à defesa que vão ensinar. E isto, meus amigos, é um escândalo !!!!
Só é possível porque neste «mercado» das artes marciais (um mercado não-regulado), a qualidade mede-se mais pelos efeitos especiais do que pela lógica do que se ensina e diz. A ética é livre e aberta à subjectividade de cada instrutor. A aula virou espectáculo de diversão e portanto, o que interessa é entreter: é a palavra “ARTE” no seu significado artístico e não no seu significado de ofício, habilidade e funcionalidade (significado que é o correcto).
Vamos ver se ao menos, ouvir o que aqui digo desperta o bom-senso em cada um. A ver se o faz procurar quem sabe, dentro de uma especialidade ou parar para questionar o que anda a fazer.
E faço aqui um apelo a outros (infelizmente poucos) colegas, sérios e especialistas, em áreas de combate: não mostrem o que fazem gratuitamente, porque isso é dar material para ser (mal) copiado, mas elucidem, coloquem o dedo na ferida, façam perguntas. EDUQUEM !!!
Não há dúvida que o caminho é sempre difícil, de sacrifício pessoal e de investimento, mas é mais fácil se o mapa estiver correcto!
Procurem quem sabe e deitem fora o que não funciona ou que não é testado sobre pressão contra um oponente(s) não-colaborante(s) – ou seja, procurem o que é validado.
Comecem a perceber que há coisas que são o que são!
É preciso pensar e reflectir, sempre se vai a tempo de fazer “mea culpa” e mudar.
… Isto, se mudar for uma opção.
Obrigado pela atenção
Do vosso,
Pedro S.
Creio que qualquer instrutor (digno desse nome) já terá se interrogado quanto ao que faz e tido dúvidas quanto a isso.
Para mim tem sido uma luta constante tentar melhorar, encontrar uma forma mais fácil de explicar, mostrar o que realmente acontece e não embarcar em fantasias que ponham alunos em risco.
Tal como tu já errei muitas vezes, e certamente ainda continuo a errar (espero que menos) mas procuro ser coerente e não ficar preso ao “é assim porque sempre foi assim”.
Sei que alguns erram sem intenção, outros erram intencionalmente porque é mais fácil ou porque dá menos trabalho (ou mais dinheiro).
Pensar novos caminhos, contestar ideias estabelecidas não pode ser visto como falta de respeito. A única falta de respeito imperdoável é quando se põe em risco um aluno por se ensinar algo sem sentido ou fundamento.
Abraço.