Reflexão sobre deficiências no ensino de artes marciais – o CAMALEÃO
Qual a verdadeira motivação de quem ensina? É altruísmo? … É egoísmo? É o quê…?
Ensinar não é o mesmo que entreter. E, já agora, entreter não é o mesmo que ensinar.
Viajando e conversando por aí, percebo que este é um dos pecados dos instrutores de artes marciais.
Não é um problema, é talvez mais um sintoma. O efeito de um tóxico, que intoxica, a médio-largo prazo os alunos.
Não é um veneno fácil de identificar à primeira. Não tem forma, sabor ou cheiro. É daqueles que mata devagarinho e do qual se tem notícia mais tarde. Todos os iniciados vão na cantiga, porque apenas é (facilmente) descoberto pelo olhar experiente…. E quem é experiente não procura estes tipos.
O intoxicado treme, por causa disso, no contacto com os colegas que ele sabe serem íntegros. Foge deles como o diabo da cruz. Como um doente que foge (imagine-se) dos não-doentes, é capaz de criticá-los publicamente, mas admira-os interiormente.
É uma doença sem nome e sem cura… dela só se conhecem os sinais…
Normalmente muito sedutor, este professor encontra a sua forma de chegar ao aluno. De cheirar a sua insegurança e medo. É amigo daquele que tem medo; daquele que quer tudo rápido e fácil, que busca respostas escritas na pedra; que adora padrões; que adora deuses; que quer ter uma garantia de qualquer coisa que o assegure. Ou melhor, identifica-se rapidamente com aquele (a) que, tal como ele, anda sem rumo.
Este professor tem resposta para tudo. É (in)seguro de si e controla todos os aspectos do assunto. Embebeda-se de si mesmo. Adora a sua imagem e é muito rápido a criticar o que está fora de si.
Ele é o seu próprio problema – má formação académica e má formação pessoal.
O seu maior medo é desiludir!
O seu maior prazer é agradar!
É um camaleão sem rumo, que se vai misturando em diferentes cores. Tal como o camaleão, importa sobreviver na selva. Tal como o camaleão, olha pouco ou nada para si mesmo e mais para o que está de fora.
Não há uma estratégia a longo prazo… (abusando do termo, porque não há estratégia senão a longo prazo); há assim uma coisa imediata e com efeitos rápidos: dinheiro rápido, consolo rápido, efeito rápido… e sabe-se lá mais o quê rápido.
Tudo se volta para o momento, para o presente. É agora ou nunca.
Mau….
E os alunos Senhor?… E os alunos?
“Os alunos andam contentes, senão desistem.”
“Os alunos querem disto e eu dou.”
Os alunos, coitados, confiam nos efeitos especiais, na cosmética à volta do professor, e nos papéis que embelezam a parede, enquanto ganham pó.
Sabem lá eles (os alunos) o que é correcto ou errado! Como contestar um tipo tão fixe? Essa autoridade que, ainda por cima, faz uns truques?
Os alunos, irremediavelmente ignorantes sobre o assunto, não lhe sabem perguntar as perguntas certas. Não lhe sabem fazer o ataque. Dançam a hipnotizante música.
O nosso vampiro suga sangue aqui e ali, vestindo-se como o ambiente manda. Não tem dono, nem regulador. É o faraó. Ele é a verdade e a validação de tudo o que faz !!!!
Então, e ensinar Senhor? …E ensinar?
“Ensinar?
O que é isso ??!!”
Pedro Silva
FMA-P
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